Lionel Fischer
Por muitos considerado o maior crítico literário da atualidade, o norte-americano Harold Bloom publicou, em 2002, um livro chamado "Gênio - os 100 autores mais criativos da história da literatura". E lá estava o nosso escritor maior, Machado de Assis (1839-1908), a quem Blomm dedica oito páginas de análise. Nada mais merecido, levando-se em conta a genialidade do "bruxo do Cosme Velho", tanto em seus romances quanto nos contos, ambos os gêneros repletos de obras-primas. Em vista disso, julgamos mais do que oportuna a presente empreitada.
Tendo como referências os contos "Missa do galo" e "Mariana", assim como fragmentos do romance "Dom Casmurro", "Contando Machado de Assis" é o atual cartaz do Centro Cultural Justiça Federal. José Mauro Brant e Antonio Gilberto assinam o roteiro, cabendo ao primeiro a atuação e ao segundo a direção do espetáculo.
Como se trata de obras muito conhecidas, não julgamos necessário resumir seus enredos. Mas torna-se imperioso destacar a forma encontrada pela dupla para contar as histórias selecionadas. E esta é aparentemente muito simples, ainda que tal simplicidade traga embutida dificuldades nada desprezíveis.
Em primeiro lugar, vemos em cena o próprio Machado de Assis, na pele do narrador - sem que isto implique em um figurino especial. Ao mesmo tempo, seus personagens ganham vida, dialogam, vivem intensamente as tramas, sempre como que "guiados" pelo autor. E o resultado é absolutamente encantador.
Vivendo o autor e todos os personagens, José Mauro Brant reafirma não apenas seu talento como ator, mas também como contador de histórias. E é realmente fascinante ver como o intérprete consegue, valendo-se apenas de variações indispensáveis, definir as múltiplas personalidades e os diferenciados climas emocionais em jogo. Um trabalho realmente notável, um dos melhores da atual temporada.
Quanto à direção, Antonio Gilberto impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com as obras escolhidas, sem arroubos desnecessários ou marcas mirabolantes. Tudo acontece em um clima impregnado de delicadeza e elegância, pleno de emoção e poesia, e tais predicados tornam obrigatória uma visita ao Centro Cultural Justiça Federal.
No que diz respeito à equipe técnica, o trabalho de todos os profissionais envolvidos evidencia a mesma elegância, delicadeza, emoção e poesia acima mencionadas. Assim, só nos resta parabenizar, com igual entusiasmo, a cenografia de Aurora dos Campos, os figurinos de Ney Madeira, a iluminação de Tomás Ribas e a trilha sonora de Marcos Ribas de Faria.
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